8 de maio de 2024 | 20:05
Aldeia guarani é destruída por ação do DNIT em meio ao desastre no Rio Grande do Sul

Sr. Estevão Garai e dona Laura relatam sua dor e sofrimento em razão da destruição causada pelo DNIT da tekoa Pekuruty, Arroio da Divisa, Eldorado do Sul/RS

Por Comissão Guarani Yvyrupa

Sr Estevão, liderança da tekoa Pekuruty, denuncia ação do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte), que destruiu a tekoa (aldeia) em momento em que a comunidade estava ausente.

As lideranças da comunidade, localizada em Arroio da Divisa, na cidade de Eldorado do Sul (RS), foram informadas da ocorrência por terceiros, sem nenhuma consulta ou oportunidade de participação nas decisões. Tal intervenção ocorreu na ausência dos indígenas, que haviam sido deslocados para um abrigo na região, devido à emergência climática que assola o estado do Rio Grande do Sul/RS. Apesar do DNIT ter informado à parceiros da comunidade que a ação estava autorizada, as lideranças garantem que ninguém consentiu com a destruição da comunidade, da escola indígena, e reclamam do desprezo com que os pertences, criações, animais domésticos e instrumentos de trabalho da comunidade foram tratados. Quando puderem deixar o abrigo, os indígenas da tekoa Pekuruty não terão casas para onde voltar.

Neste momento de tanto sofrimento e dor, nos solidarizamos com a tekoa Pekuruty e todas as demais comunidades indígenas atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Os povos indígenas são protetores do ambiente, dos biomas mata atlântica e pampa, e a conservação e manejo ambiental que exercem em seus territórios são essenciais não apenas para o nhandereko, nosso jeito de ser, mas para o bem viver de todos nós. Precisamos seguir em luta pelas demarcações e pelo reconhecimento do direito à terra de usufruto exclusivo dos povos indígenas, porque nós protegemos o meio ambiente e cuidamos dele por todos nós. É pela garantia de futuro de nossas crianças.

É de fundamental importância que os órgãos e autoridades competentes dêem andamento à denúncia e à responsabilização dos envolvidos pelos danos materiais e morais causados à comunidade. Que a calamidade que se abateu sobre o Rio Grande do Sul não sirva de pretexto para a destruição de nossas aldeias. Nesse momento em que estamos todos mobilizados pela garantia da vida, esperamos que o DNIT não dê um passo a mais nas obras que colocam em risco a existência de comunidades tradicionais.

Clamamos pela imediata suspensão da licença de instalação da Duplicação da BR 290 até que sejam dirimidos todos os efeitos negativos sofridos pelas comunidades indígenas impactadas pelo empreendimento, tendo em vista que tanto a BR 290, hoje em duplicação, quanto a BR 116, em fase final das obras de expansão da capacidade, percorrem caminhos tradicionais guarani e atravessam territórios sagrados e essenciais para o mbyareko.

Apenas protegendo tais territórios conseguiremos garantir uma vida digna ao nosso povo e à sociedade gaúcha, que hoje sofre os piores efeitos das intervenções predatórias ao meio ambiente praticadas nos últimos anos.

Em um triste diálogo com Roberto Liegbott, do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Sul, Sr. Estevão e dona Laura relataram sua indignação:

Conversei longamente com o Estevan e com a Laura. Os dois seguem bastante revoltados.

Querem regressar para o local.

Lá na tekoa estão os bichinhos deles.

Querem saber porque destruíram tudo o que eles tinham. Quem deu autorização? E não foram eles.

A Laura tinha recebido um projeto para comprar ferramentas com as quais iria produzir artesanatos. Segundo ela, todas as ferramentas estavam na casa deles.

Eles também estavam criando pintinhos, mais de 20.

Me disseram que vão voltar e só sairão quando o Dnit comprar as terras para eles viverem.

É muito triste perceber a dor deles e não termos mais condições para ajudá-los. Precisamos da resposta das autoridades competentes.

Que Ñanderu nos proteja e dê força e coragem.

Dialogo entre as lideranças guarani Estevan Garai e dona Laura e Roberto Liegbott, do Cimi