Com apoio do Centro de Trabalho Indigenista, a Comissão Guarani Yvyrupa lançou na última semana, no Dia Internacional dos Povos Indígenas (9/8), Guaíra & Terra Roxa – Relatório sobre Violações de Direitos Humanos contra os Avá Guarani do Oeste do Paraná (Acesse o PDF AQUI). Apresentado na aldeia Marangatu, a publicação revela diversos casos que vão desde a falta de acesso a direitos básicos como água encanada, energia elétrica, saúde e educação, até a discriminação e a violência física contra os Avá Guarani.
Reunindo mais de 500 pessoas, entre membros das comunidades Guarani, autoridades públicas e convidados de universidades da região Oeste do Paraná, a programação do lançamento começou cedo com apresentações de danças e rezas tradicionais.
Ainda na aldeia Marangatu, na sala de aula da Escola Estadual Mbja Porã, o relatório foi apresentado por Gilberto Benites Tupã Karaí, cacique do Tekoha Pohã Renda em Terra Roxa, e Ilson Soares Karai Rokadju, cacique do Tekoha Y’Hovy em Guaíra.
“As pessoas que ainda não conhecem a realidade dos Avá Guarani no Oeste do Paraná poderão conhecer. Nós sofremos muita discriminação justamente pela falta de conhecimento do que estamos vivendo”, comenta Gilberto Tupã Karaí.
Os dois caciques participaram de toda a elaboração do relatório acompanhando as visitas para a realização de entrevistas.
“O processo de elaboração do relatório se deu através das visitas nas aldeias. A Comissão Guarani Yvyrupa e as lideranças locais acompanharam todo o processo de pesquisa e levantamento das histórias contadas pelas próprias vítimas da violência que a gente passa todos os dias. Não é uma história que eu conto do fulano, mas sim a própria pessoa que passou”, conta Ilson Karai Rokadju.
Em seguida, os presentes saíram em caminhada para o centro de Guaíra. Com o relatório em mãos, a intenção era de formalizar a entrega nos órgãos públicos da cidade. A primeira parada foi na prefeitura, onde as comunidades Avá Guarani tiveram de esperar a chegada de Heraldo Trento (DEM) enquanto seguiam dançando e rezando nas ruas do município. O relatório foi também entregue no Ministério Público Federal.
“Nossas famílias precisam da demarcação de nossas terras, por isso viemos com nossas crianças e os mais velhos pessoalmente entregar o relatório na prefeitura e no Ministério Público Federal”, diz Anatálio Ortiz, cacique do Tekoha Jevy, no município de Guaíra.
A demarcação de suas terras na região é a principal reivindicação das comunidades e também principal motivo para a discriminação sofrida pelos Guarani e para a violência contra suas lideranças.
“Para que nossa situação venha de fato a mudar o que precisamos é da demarcação das nossas terras, do reconhecimento de nosso direito às terras tradicionais. Tudo o que está no relatório, todas as violências que sofremos é por falta do reconhecimento do nosso direito à terra que tem aumentado a violência e o preconceito nos municípios de Guaíra e Terra Roxa contra os Guarani”, lamenta Ilson Karai Rokadju.
Guaíra & Terra Roxa – Relatório sobre Violações de Direitos Humanos contra os Avá Guarani do Oeste do Paraná tem como principal objetivo sistematizar e denunciar as graves violações de direitos humanos sofridas pelos mais de 1.600 Avá Guarani dos municípios de Guaíra e Terra Roxa que reivindicam o reconhecimento de seu território tradicional.
A publicação revela a negação de direitos básicos fundamentais, tais como o acesso à água, ao saneamento básico e aos serviços de saúde e educação. Além disso, compila os diversos casos de violências físicas, agressões, tentativas de assassinato e os inúmeros casos de preconceito contra indígenas no Oeste do Paraná.
O relatório mostra como o processo histórico de expulsão dos Guarani de suas terras estimulado com a ocupação do Oeste, promovida pelo estado brasileiro, é reiterado ainda hoje por meio do não reconhecimento das Terras Indígenas Guarani na região.
As informações foram coletadas principalmente em entrevistas realizadas com os próprios Guarani das 14 aldeias dos municípios de Guaíra e Terra Roxa. Também foram colhidos depoimentos de pessoas que trabalham diretamente com as comunidades e consultados os processos judiciais que envolvem as aldeias e seus membros.
Realizado pela Comissão Guarani Yvyrupa, organização que representa o povo Guarani no Sul e Sudeste do Brasil, a publicação contou com o apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos (FBDH), do Fundo Socioambiental CASA, da Embaixada Real da Noruega e do Centro de Trabalho Indigenista.