ADIADO ATY GUASU DO OESTE DO PARANÁ DEVIDO AMEAÇA DO CORONA VÍRUS
REUNIÃO SERÁ REMARCADA EM OUTRA DATA
Nós lideranças Ava Guarani do Guasu Guavirá e Guasu Ocoy Jacutinga, somando 24 aldeias nos municípios de Guaíra, Terra Roxa, Santa Helena, Itaipulândia, Diamante D’Oeste e São Miguel do Iguaçu, todos no Oeste do Paraná, articulados na Comissão Guarani Yvyrupa, diante das ameaças de contaminação provocadas pelo COVID-19, Coronavírus, pensando na segurança das lideranças, dos jovens e dos mais velhos, optamos por suspender o Aty Guasu que estávamos convocando para os dias 23 a 26 de março, que objetivava a discussão das violações de direitos humanos que estão ocorrendo em nossa região.
Ressaltamos profunda preocupação com a falta de interesse dos órgãos públicos responsáveis pelas garantias dos nossos direitos e que se mostraram omissos diante dos inúmeros convites que foram feitos.
Sabemos que, com o vírus corremos o risco de contaminação e morte, mas ressaltamos que aqui, no Oeste do Paraná, nossa maior preocupação não é morrer por doença ou por idade, estamos sendo assassinados dia após dia. As autoridades responsáveis parecem achar normal que assassinos atuem impunemente, desde que matem apenas indígenas. Nenhuma investigação de assassinatos de nossos parentes chega a alguma conclusão, ninguém é punido, e nossas comunidades seguem sendo ameaçadas.
Em novembro de 2019, Demilson Ovelar Mendes da aldeia Jevy, município de Guaíra, foi brutalmente assassinado com pauladas e pedradas e teve seu corpo abandonado em uma plantação de soja a alguns quilômetros de onde vivia.
Em 2020 já são inúmeros casos de ameaças verbais, tentativas de atropelamento e visitas suspeitas de não indígenas nas aldeias, feitas para intimidar nossas comunidades. Sempre que acionadas, as polícias fazem pouco caso de nossa preocupação com as vidas de nossos familiares.
Nas últimas semanas perdemos mais de nossos familiares. No começo de março, também em Guaíra, Fabiano Gonçales, de apenas 17 anos, membro da aldeia Y’Hovy, foi atropelado por um caminhão quando passava de bicicleta pelo centro da cidade.
Em Diamante D’Oeste, Virginio Benites, da aldeia Itamarã foi assassinado a facadas no dia 8 de março. A vida de Virginio poderia ser salva, mas a negligência com vidas indígenas o deixou sangrando até a morte. Outros três indígenas Ava Guarani ficaram feridos no mesmo ataque. Na noite de sábado, 14 de março, a comunidade voltou a ser ameaçada. Os assassinos de Virginio seguem soltos e autorizados a seguir ameaçando nossos familiares.
As mortes Ava Guarani no Oeste do Paraná são vistas sempre como casos isolados pelos não indígenas. São sempre justificadas como resultado de brigas, do envolvimento com drogas ou meros acidentes. Nós sabemos que o preconceito com nossas comunidades é o que tem causado tantas mortes. No Oeste do Paraná, nossas vidas importam menos do que a dos não indígenas e isso fica claro pela falta de preocupação das autoridades em investigar os crimes.
Este cenário de violência está diretamente relacionado com a falta de reconhecimento de nossos direitos territoriais. Nossas terras tradicionais já deveriam estar demarcadas na região, garantindo a possibilidade de um futuro digno para nossas comunidades. Ao invés disso, somos tratados como invasores, somos mal vistos nas cidades e sofremos preconceito e racismo diariamente.
Denunciamos que esse cenário é consequência dos discursos anti-indígenas proferidos pelo Governo Federal e que se amplia de maneira vertiginosa diante da omissão das autoridades constituídas, por isso afirmamos, não iremos desistir de lutar por nossos direitos, nem de denunciar as ações e omissões do Estado brasileiro que estão provocando o genocídio do nosso povo Ava Guarani.
Exigimos a atuação da FUNAI, do Ministério da Justiça, do Ministério Público Federal, e da Polícia Federal, que medidas urgentes sejam tomadas no sentido de ampliar a segurança em nossas aldeias, de investigar e punir os agressores que se sentem encorajados a praticar violência contra o nosso povo. Aos convidados para nosso Aty Guasu, pedimos que permaneçam atentos e não deixem de trabalhar, mesmo que a distância para garantir que essas ameaças cessem.
SANGUE INDÍGENA – NENHUMA GOTA A MAIS