Violência na TI Tekoha Guasu Guavira se agrava, fazendeiros e população realizam incursões armadas, cerco e restrição de acesso à prestação de socorro
Por Assessoria de Comunicação da CGY
O povo Ava Guarani está sob ataque! Quatro áreas nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, região Oeste do Paraná, estão cercadas por fazendeiros armados que cometem agressões e ameaçam as famílias.
As comunidades estão impedidas de entrar e sair dos locais, e nenhum apoiador consegue chegar para entregar alimentação e água. A própria polícia que deveria garantir o livre trânsito das pessoas está dificultando o acesso de serviços básicos aos locais.
As áreas em conflito são aldeias em retomada dentro da Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, que foi delimitada pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) em 2018 após longo processo de luta e muitas reivindicações, compreendendo áreas nos municípios de Guaíra, Terra Roxa e Altônia.
Esta região vive uma escalada de violência contra os Ava Guarani em retaliação às movimentações territoriais das comunidades para a retomada de territórios tradicionais, com ataques a tiros, fogos de artifício e incêndios, e já acumula uma dezena de feridos. Desde janeiro, o governo federal autorizou o uso da Força Nacional de Segurança Pública, que permanece na região na tentativa de fazer cessar a violência.
Até hoje, as comunidades vivem confinadas em pequenas áreas cercadas por monoculturas, onde se acumulam os problemas de saneamento, falta de acesso à água e de espaço para o nosso modo de vida guarani.
Os ataques de fazendeiros iniciaram no dia 5 de julho e seguem intensificando.
Na tekoha Ara Poty, os fazendeiros dispararam tiros de armas de fogo e atearam fogo em barracos e abrigos, destruindo os alimentos da comunidade.
Uma mulher que tentou sair para buscar alimentos foi baleada no pé. O tiro veio de uma fazenda no entorno da aldeia tekoha Arakoe, em Terra Roxa.
Um missionário do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) foi impedido de entregar alimentos para as tekoha. Quando tentava chegar de carro em uma área retomada, foi ameaçado e perseguido por vários quilômetros. Ele está recebendo ameaças até agora.
Em outro episódio, um capataz de fazenda jogou o carro contra um dos parentes, e, portando arma de fogo, fez ameaças de morte.
Em Guaíra, um fazendeiro atropelou dois parentes, e o cerco promovido por outros fazendeiros impediu que a ambulância do Samu prestasse socorro aos feridos. Junto aos fazendeiros, a polícia presente no local afirmou que o serviço médico só seria feito caso a área de retomada fosse abandonada, em flagrante omissão de socorro colocando em risco a vida das pessoas. O atendimento só ocorreu depois de horas de articulações do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e do Ministério Público Federal (MPF) junto à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
Um vídeo divulgado nas redes sociais, e obtido pela CGY, mostra um cerco dos fazendeiros na aldeia tekoha Tatury, onde pessoas foram atropeladas. Os agressores acusam os Ava Guarani de “invasores”. Assista:
Até o momento as forças policiais não fizeram esforços efetivos para desmobilizar o cerco promovido pelos fazendeiros, que seguem intimidando e atacando as comunidades.
As reivindicações e pedidos de socorro dos Ava Guarani estão expostos em cartazes produzidos nas retomadas, em contraponto a informações falsas exibidas em falas e faixas de proprietários rurais e comerciantes durante manifestação pública realizada ontem. Em um deles, consta os dizeres “Devolvam o território ancestral ao povo Ava Guarani”. Em outro, há a reivindicação de “Investigação e justiça pelo ataque de 10 de janeiro”, ocasião em que a tekoha Y’hovy foi atacada a tiros, e quatro parentes ava guarani foram baleados (Relembre o caso: “Ataque a comunidade indígena no Paraná deixa três feridos”, CNN Brasil).
Até hoje nenhuma das terras do povo Ava Guarani foi demarcada, e as comunidades seguem em luta pelo reconhecimento dos direitos territoriais e por reparação pelos danos causados em virtude da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, iniciada na ditadura civil-militar.
Em razão do conflito, uma missão conjunta do MPI, da Funai e do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) se deslocou para a região, e realizam tratativas entre as comunidades indígenas, proprietários rurais e órgãos públicos, segundo informações divulgadas pelo governo federal (clique aqui para ler mais).
Violência também no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul
A violência também alcançou as comunidades Mbya Guarani no Rio Grande do Sul. No último sábado (13/7), a tekoa Pekuruty, localizada às margens da BR-29, em Eldorado do Sul (RS), foi atacada a tiros. A comunidade já havia sofrido com a destruição da aldeia em ação do DNIT durante o período da catástrofe das enchentes, e atualmente luta pela reconstrução.
O ataque ocorreu durante a noite. Uma mulher da comunidade avistou uma caminhonete estacionar em frente à aldeia, no acostamento da BR-290, km 132, e foi até o local para saber do que se tratava. Neste momento, foram ouvidos vários disparos de arma de fogo na direção da aldeia, e o carro partiu em seguida em alta velocidade.
Nessa semana, ao mesmo tempo, foram atacadas seis comunidades do povo Guarani, sendo três aldeias ava guarani no oeste do Paraná, uma aldeia Mbya Guarani no Rio Grande do Sul e duas aldeia Kaiowá e Guarani em Mato Grosso do Sul, evidenciando o cenário de violência extrema contra os povos indígenas, e seu impacto direto no povo Guarani.