Encontro ocorre no âmbito da Caravana “Participa, parente”, promovida pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI)
Por Assessoria da CGY
Iniciou hoje (5) mais uma reunião de coordenação geral da Comissão Guarani Yvyrupa, congregando cerca de 60 lideranças dos 6 estados das regiões sul e sudeste do Brasil, em Ubatuba (SP). Serão 4 dias de debates sobre a situação fundiária das terras guarani, estratégias para o fortalecimento da CGY e temas de importância das mulheres e da juventude.
O evento ocorre no âmbito da Caravana “Participa, parente!”, promovida pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI), e tem entre seus objetivos a convalidação das indicações de representantes da CGY para o Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), que marca a retomada das políticas para os povos indígenas no país.
Este primeiro dia de encontro contou com cantos, apresentações, uma avaliação de conjuntura política nacional em relação aos direitos indígenas, em especial a demarcação de terras, e uma reflexão sobre a própria CGY.
A pergunta “Mba’exagua CGY? – O que é a CGY?”, orientou a reflexão, com foco na missão e as atribuições da CGY enquanto organização que articula o povo Guarani para a luta pela demarcação de terras.
As lideranças revisitaram a trajetória histórica das articulações de luta dos ancestrais do povo Guarani e suas transformações. Partindo da Confederação dos Tamoios, que vigorou entre 1554 e 1567 na região dos atuais estados de São Paulo e Rio de Janeiro e teve Ubatuba como palco de episódios importantes, chegamos ao formato de representação nacional em uma organização civil, que é hoje um desdobramento do movimento de luta de xamoi kuery e xaryi kuery, anciãos e anciãs guarani, surgido na década de 1980.
Como afirma Leonardo Wera Tupã, liderança guarani da tekoa Yvy Ju, no litoral norte de Santa Catarina, a criação da CGY remete à história, desde o século 16 e o início da escravidão. “Desde então”, ele afirma, “o povo Guarani não tem descanso”. Para ele, é relevante retomar a memória dessas formações antigas para se ter um panorama da trajetória histórica do povo Guarani.
“A criação da CGY remete à história. Inicia com a organização dos ancestrais do povo Guarani em organizações desde 1554, com a criação da Confederação dos Tamoios, que foram se transformando ao longo dos séculos, e chega agora nesse tipo de representação nacional. É uma sucessão de criações para a luta.”
Leonardo Wera Tupã, liderança guarani da tekoa Yvy Ju, no litoral norte de Santa Catarina
É por isso que, segundo Werã Tupã, a luta guarani tem a ver com a ancestralidade, mas também com a honra: “A luta guarani tem a ver com a ancestralidade, mas também com a honra. Foi muito o que perdemos, parentes, cultura, terras. Buscamos, então, a justiça e a honra, pela memória dos antepassados”.
Em 2022, a CGY lançou a animação Mba’exagua Comissão Guarani Yvyrupa?, que conta a história da CGY e da luta do povo Guarani pela demarcação de terras (CLIQUE PARA ASSISTIR).
Junto com a luta pela terra, que é central na CGY, conversamos sobre a importância da valorização das mulheres, que vem conquistando cada vez mais espaço e tendo reconhecido o seu papel fundamental na vida dos territórios tradicionais, das comunidades, do nhandereko, o modo de ser do povo Guarani, e da própria organização.
As articuladoras kunhangue, lideranças mulheres, apresentaram um resumo de sua atuação, que inclui a participação nas instâncias de deliberação e governança da CGY, e as resoluções aprovadas em seus espaços autônomos, como os fóruns de kunhangue ruvixa e encontros nacionais de mulheres guarani.
Este ponto foi enfatizado por Ivanildes Kerexu, uma das articuladoras kunhangue da CGY na região de Ubatuba, litoral norte de São Paulo. Em suas palavras, a atuação na CGY é uma expressão do cuidado e do amor pela terra e pelas pessoas aprendidos com os mais velhos, e uma ação que é fortalecida espiritualmente:
“Antigamente, xeramoi e xejaryi kuery tinham o mborayu, amor, e isso foi ensinado para nós,
Ivanildes Kerexu, articuladora kunhangue da CGY
para que tenhamos esse mborayu pela yvyrupa. Por isso mesmo que criamos a CGY, para cuidar das aldeias guarani de todos os cantos do Brasil. Falando do lado espiritual, sempre temos esses espíritos que nos olham para que a gente faça sempre um bom trabalho. Eles estão sempre nos olhando para colocarem empecilhos nos nossos caminhos.”
A equipe do MPI apresentou a estrutura e o funcionamento do órgão, respondendo perguntas e questionamentos das lideranças guarani. A principal demanda segue sendo o andamento das demarcações de Terras Indígenas. A ocasião serviu para aproximar o MPI das bases e fortalecer os canais de interlocução com o governo federal, que já são amplamente valorizados pelo povo Guarani.
A reunião da CGY segue até esta sexta-feira (8/12).
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